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quarta-feira, 6 de agosto de 2014
Eu vivo de mudanças de humor, crises de riso e choros desconsolados ultimamente. É claro que eu sempre tive um pouco de tudo isso na minha vida, afinal, essa sou bem eu mesma, mas sempre aconteceu de forma menos intensa, eu acho.

Só que agora que a noção do tempo mudou, agora que eu me vejo tendo que viver toda uma vida (a de intercambista) em um ano, as mudanças de humor ocorrem mais rapidamente. A cada novidade, zilhões de sentimentos me sufocam, brigando por espaço dentro do meu peito e eu vou à loucura. Daí eu analiso os fatos, eventualmente aceito, me adapto, a crise passa e eu espero pela próxima fase.

Comecei a perceber isso em mim quando tive que escolher se ia ficar mais 4 meses aqui. Primeiro achei que sim, depois sofri para me decidir que não. Piorou quando tive que contar para os meus hosts sobre o não. A vida, então, me deu o prazo de aceitação e adaptação, que acabou tão logo a Mijke e o Gert começaram a procurar pela próxima aupair.

Crise. Reflexão. Aceitação. Adaptação. Essas são as minhas 4 fases, o meu ciclo de vida no intercâmbio. Me adaptei à procura e agora me adapto à escolha deles (essa parte nem foi tão difícil). Vou deixando a ideia da minha futura, porém dolorosamente próxima, ausência tomar conta de mim e a crise vem... Está acontecendo enquanto escrevo o texto. Aqui e agora. Em 41 dias eu vou voltar para o Brasil.

Em 41 dias o meu quarto vai ser de um outro alguém. A chave, a bike, a família, a vida, as meninas...

Eu sempre quis voltar para o Brasil. O plano nunca foi ficar aqui até o final da minha vida. Então, por que dói tanto? Mas aí percebo, o plano foi feito antes da minha vinda para a Holanda. Antes de ver, e saber, e sentir a mudança que ocorreu em mim.

São detalhes pequenos. Hoje mesmo me dei conta do tanto de privacidade que tenho aqui no meu quarto e que nunca tive no Brasil. Lá a casa sempre foi pequena, o quarto compartilhado (e eu não reclamo disso), mas ter tido toda essa privacidade aqui e saber que não a terei no Brasil, incomoda um pouquinho. A privacidade é uma coisa nova e eu descobri que gosto dela.

As viagens... Aqui eu viajo com uma frequência absurda, o que em Goiânia para mim não é fácil. E eu sei que deveria ter mantido na mente que isso tudo só duraria um ano, que eu voltaria para o meu país e tudo estaria como eu deixei. Mas isso não é verdade. As coisas mudam e eu mudei também. Acho que perdi essa ideia de que teria que me acostumar com o ritmo lento de viagens no Brasil, no momento em que corri na direção da Torre Eiffel...

É claro que eu já suspeitava, mas aqui na Europa veio a certeza: eu amo viajar! Nasci para isso! Então assusta e machuca um pouco pensar que vou ter que desacelerar quando voltar para casa. Não é que não me faça feliz voltar... Só que agora a volta significa mergulhar no escuro. Porque antes eu tinha todo um plano de vida e agora ele sumiu. Eu não sei nem por onde começar quando voltar.

Fiquei tão entretida realizando os meus sonhos, que esqueci que esse era o combinado ao final dos 12 meses. Talvez, se eu tiver sorte, eu me reencontre no tempo que me resta aqui. Me conecte novamente com a vida pré-intercâmbio e as coisas vão ser mais fáceis. Só que aí vem outro porém: eu não sei se quero que tudo volte a ser como antes só porque é mais fácil.

Afinal, a minha vida de intercambista aconteceu. E pode não ter sido uma vida TODA, pode ser (e é provável), que essa vida de intercambista seja apenas mais uma das milhões de vidas que eu estou destinada a ter no decorrer da minha vida. Mas ela aconteceu. Chegou, me marcou, me mudou e eu não vou, e não posso, e não quero mudá-la ou apagá-la.

Então eu vivo a crise, reflito, aceito e me adapto. Aos poucos tudo se encaixa, mesmo eu sabendo que não sei de nada para depois do momento em que o avião pousar. Só espero não me decepcionar com as minhas escolhas. Sei que isso pode acontecer, mas eu torço para que essa seja mais uma decisão tomada que vai ser colocada na lista de acertos. O medo maior é o de decepcionar as pessoas que eu amo. Especialmente a minha família holandesa. Mas eu não consigo evitar o sentimento de que isso está acontecendo.

Sei que o que vivi aqui ninguém me tira. Torço para que seja assim com a minha host family também. Quero saber que eles vão se lembrar de mim com o mesmo carinho com o qual eu vou me lembrar deles. A primeira vez que a Liv disse "eu te amo" foi para mim. Um momento tão marcante como esse não pode ser esquecido pelos que estão envolvidos nele, certo??

A crise veio, eu refleti, aceitei e agora, não há nada que eu possa fazer a não ser esperar pela adaptação. Enquanto isso não acontece, vou tentando distrair a minha mente. Fingir que não sei sobre o café da manhã surpresa que me aguarda em algumas horas, pelo meu aniversário. Aproveitar o churrasco que os meus hosts estão preparando para celebrar mais um ano da minha vida. Compartilhar esse momento com as pessoas que eu aprendi a amar. Ganhar mais memórias para levar comigo no coração, não importando o destino final.

Holanda - Agosto/14

2 comentários:

Mayara Busnello disse...

Primeiro, que foto liiinda, nem dá pra te ver nela, mas a paisagem óh: TOP! hahahahahahaha
Segundo, é tão bom saber que a gente mudou e que conhecemos lugares e pessoas que serão eternas em nós, fora que tudo que tem que acontecer, vai acontecer, vai que você acha o marido ai, aos 45 do segundo tempo, lógico que ele precisa ter um amigo gato pra sua amiga né.
Mas é fácil hahahahahaha, sqn.
Enfim, brincadeiras a parte, não esqueça meu presente, vai dar quase certo com meu aniversário e tal hihihihi

Beijinho

Renata Oliveira disse...

A vida é feita de mudanças msm.. só nos resta seguir em frente e nos adaptar a cada nova realidade, ou velha.. enfim.. estamos com saudades.. Vejo vc em casa... <3

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